Edição 2023
19 a 27 de Maio
Uma ideia não passa de uma ideia enquanto não é posta em prática. E só nessa altura, quando sai do papel ou da imaginação e ganha espessura real, é que começamos, finalmente, a conhecê-la e a perceber a sua identidade. O Imaterial nasceu na sequência da atribuição, por parte da UNESCO, do estatuto de Património Imaterial da Humanidade ao cante alentejano, expressão musical maior da região do Alentejo, e da vontade de promover o diálogo entre esta música que soa à voz da terra trabalhada de sol a sol e tantas outras que, nas mais variadas geografias, corporizam os costumes locais. Isso já o sabíamos: que este seria um festival para nos reforçar a certeza de que as fronteiras (políticas, geográficas, culturais) não passam de linhas imaginárias. E que as diferenças, quando existem, devem ser motivo de encantamento e não de desconfiança.

Aquilo de que apenas suspeitávamos era o quanto Évora, cujo centro histórico é Património da Humanidade, daria a perfeita escala para os encontros proporcionados pelo Imaterial - a música como partilha colectiva, as histórias como narrativas que se desprendem das canções e se estendem para lá dos palcos, o canto como prolongamento da mesa de refeições, as ruas como lugares naturais para que a música se escute e se misture com os sons da cidade. Uma escala que permite a proximidade entre músicos e público, uma escala que nos recorda o quanto a tradição, como fenómeno de transmissão, reinventada no Imaterial através de visões pessoais daquilo que pode significar hoje em dia, não pode ser feita de uma matéria museológica ou sagrada.

A tradição no Imaterial conjuga-se no presente e no futuro. Discute-se e reivindica-se para que continue viva e actuante. Para que tudo aquilo que carregamos como legado possa transportar-nos para novas formas de nos pensarmos como colectivo. Porque não há pensamento sem escuta.
Edição 2022
1 a 9 Outubro
A tradição começa quando um costume ou hábito aprende a infiltrar-se na vida das gentes e, como se tivesse estado sempre ali, procura a eternidade na transmissão de geração em geração, assumindo-se como um saber e uma história partilhados. O Imaterial nasceu ainda há pouco, em 2021, mas é esse caminho que quer fazer, pensando, reflectindo e divulgando o património dos povos de todo o mundo, espalhando as suas visões da vida e contribuindo para um entendimento mais pleno e harmonioso entre aqueles que habitam o planeta em cada momento histórico. Sabendo escutar-se, respeitar-se e reconhecer-se. Porque um espelho que nos devolve apenas a nossa imagem de pouco serve – não promove a descoberta, limita-se a confirmar aquilo que de nós já conhecemos. Vamos ainda para a segunda edição, mas a segunda de muitas. As raízes estão plantadas na terra e a crescer.
Edição 2021
18 a 26 Junho
Em 2014, a Unesco acolheu o cante alentejano na sua rigorosa e preciosa listagem de expressões locais elevadas a Património Imaterial da Humanidade. Ao fazê-lo, colocava a música mais profundamente enraizada no Alentejo na companhia do fado, do flamenco e de vários outros géneros musicais planetários que devem ser protegidos e valorizados. Músicas, afinal, que fazem parte da História dos povos, que os definem e identificam, que ajudam a contar as suas vidas e a fixá-las naquilo que têm de único. Músicas que sobrevivem através da transmissão directa entre gerações e fornecem a novas gerações uma cartografia que sinaliza de onde vêm e a herança identitária que lhes é passada.